1. O que está na base do aparecimento da depressão?
A depressão resulta da interação de múltiplos fatores, como por exemplo:
- Predisposição genética,
- Alterações neuroquímicas,
- Eventos de vida adversos
- Fatores psicossociais.
Se por um lado pode haver disfunções nos sistemas serotoninérgico, dopaminérgico e noradrenérgico que estejam na base da doença.
Por outro, os traumas precoces, o stress crónico, o isolamento social ou as perdas significativas podem desencadear episódios depressivos em pessoas já por si vulneráveis.
2. A depressão pode ter uma causa física, como hormonal?
Sim.
Há perturbações endócrinas que estão associadas a sintomas depressivos, como:
- Hipotiroidismo,
- Alterações do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal
- Alterações hormonais no pós-parto ou na menopausa,
A avaliação médica deve incluir sempre uma investigação orgânica quando há suspeita clínica.
Vejamos em maior detalhe:
1 – Hipotiroidismo:
O hipotiroidismo é uma doença em que a glândula tiróide produz quantidades insuficientes de hormonas tiroideias (T3 e T4).
Estas hormonas são essenciais para o metabolismo geral do organismo, incluindo o funcionamento cerebral.
A deficiência hormonal pode causar:
- Fadiga intensa
- Letargia
- Tristeza persistente
- Diminuição da concentração
- Lentificação cognitiva
Estes sintomas mimetizam frequentemente um quadro depressivo e, por isso, em qualquer avaliação psiquiátrica, é necessário despistar alterações da função tiroideia (TSH, T3, T4).
Quando o hipotiroidismo é tratado, os sintomas depressivos costumam regredir.
2 – Alterações do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HHA)
O eixo HHA é o principal sistema neuroendócrino responsável pela resposta ao stress. E envolve três estruturas:
- O hipotálamo (no cérebro)
- A hipófise (glândula pituitária)
- As glândulas suprarrenais (acima dos rins)
Num estado depressivo, este eixo pode estar hiperativo ou disfuncional, levando a:
- Produção excessiva de cortisol (a “hormona do stress”)
- Supressão de outros sistemas hormonais
- Desequilíbrios no sono, apetite e humor
Estes mecanismos estão associados à neuroinflamação e à redução da neurogénese, contribuindo para alterações cerebrais estruturais e funcionais observadas na depressão.
A regulação do eixo HHA é um processo gradual que depende da estabilização emocional, da diminuição do stress crónico e da correção de padrões fisiológicos e comportamentais desadaptativos.
3 – Alterações hormonais no pós-parto ou na menopausa
➤ Pós-parto
No período após o parto, há uma queda abrupta dos níveis de estrogénio e progesterona, hormonas que estiveram elevadas durante a gravidez.
Esta descida, associada a alterações no sono, fadiga extrema e exigências emocionais, pode desencadear:
- Tristeza pós-parto (transitória e comum)
- Ou depressão pós-parto (patológica e mais grave)
➤ Menopausa
Durante a menopausa, a redução progressiva dos estrogénios pode levar a alterações no humor, irritabilidade, insónia e ansiedade.
As mulheres com antecedentes de depressão têm um maior risco de recaída nesta fase da vida.
Estas perturbações não causam obrigatoriamente depressão, mas aumentam a vulnerabilidade.
Por isso, na avaliação de qualquer quadro depressivo, o médico deve sempre considerar a hipótese de uma causa endócrina subjacente e proceder a exames complementares quando clinicamente justificado.
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3. A depressão é uma doença hereditária?
Existem evidências de predisposição genética.
Há estudos com gémeos e famílias que indicam que parentes de primeiro grau de indivíduos com depressão major têm um risco aumentado.
No entanto, a hereditariedade não é determinista – os fatores ambientais continuam a desempenhar um papel mais relevante.
4. A partir de que idade pode surgir a depressão?
A depressão pode surgir em qualquer fase da vida, incluindo na infância e na adolescência. Contudo, os primeiros episódios ocorrem mais frequentemente entre os 15 e os 30 anos.
A sua apresentação varia com a idade, sendo frequentemente subdiagnosticada em idosos e adolescentes.
Os idosos e os adolescentes tendem a apresentar quadros atípicos, o que dificulta o diagnóstico e contribui para que a doença seja frequentemente subvalorizada ou confundida com outras patologias.
Em Idosos
Nos adultos mais velhos, a depressão pode não se manifestar com tristeza declarada, mas sim com sintomas como:
- Queixas somáticas vagas (dores, mal-estar, insónia)
- Apatia, isolamento social, lentificação
- Perda de memória ou confusão (podendo simular demência – “pseudodemência depressiva”)
- Falta de interesse nas atividades diárias ou recusa alimentar
Estes sintomas são muitas vezes atribuídos erradamente ao envelhecimento normal ou a doenças físicas crónicas, o que atrasa o diagnóstico e o tratamento adequado.
Em Adolescentes
Nos jovens, a depressão pode surgir com:
- Irritabilidade em vez de tristeza
- Agressividade, impulsividade ou comportamento de risco
- Diminuição do rendimento escolar
- Queixas físicas recorrentes (cefaleias, dor abdominal)
- Isolamento digital ou comportamentos autolesivos
Como a adolescência é um período de transformação emocional, estes sinais podem ser confundidos com “fases normais do crescimento”, levando à banalização do sofrimento psicológico.
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