Desde o início da guerra na Ucrânia, as Irmãs Hospitaleiras, fiéis à missão de responder às necessidades dos mais vulneráveis onde quer que se encontrem, lançaram várias campanhas de solidariedade em apoio ao povo da Ucrânia.
De acordo com a Organização Internacional para as Migrações (OIM), desde o início da ofensiva russa mais de 7,1 milhões de pessoas fugiram da Ucrânia, provocando “a maior crise humanitária que a Europa viu desde a Segunda Guerra Mundial”.
Estávamos acostumados a visualizar a guerra na televisão, longe de nós, sem nos afetar diretamente, aparentando ser uma coisa de outros continentes, talvez menos desenvolvidos que o nosso. Contudo, bateu-nos à porta. Desta vez os refugiados não atravessam oceanos, tendo uma identidade sociocultural que nos é familiar, sentindo nós menos “barreiras”. Mas tiveram que atravessar as memórias de destruição do seu próprio país pela invasão de vizinho que “quer reinar” à custa de passar por cima de outras pessoas.
Em alguns países europeus, onde se inclui Portugal, verificou-se de imediato uma generosa solidariedade para com estes movimentos migratórios e onde, simultaneamente, existe uma clara transferência para o terceiro setor, que se organizou para o acolhimento e conceção de proteção social aos refugiados, em articulação com alguns municípios e organizações do estado.
Da Ucrânia saem mulheres e crianças com narrativas de sofrimento, é por isso que se assume um desafio emergente para que nos planos de acolhimento se contemple, não só respostas em infraestruturas, mas também que possam ser formadas equipas técnicas de apoio social e psicológico especializado.
Perante este cenário de emergência social e sanitária, as Irmãs Hospitaleiras não ficaram indiferentes. Sempre esteve na origem da nossa existência atender às pessoas com sofrimento psíquico e por isso, este movimento migratório faz-nos abrir as portas das nossas estruturas e oferecer hospitalidade, o aconchego que Deus lhes quer dar através de nós. Em colaboração com as câmaras municipais de Sintra e Cascais, disponibilizamos 20 lugares para acolhimento de refugiados. Começámos a receber as primeiras pessoas a 4 de abril de 2022 nas nossas instalações da Parede, na residência das HSC.
No meio da guerra, da incerteza e do sofrimento, criámos laços e afetos, que evidenciam mais uma vez a nossa missão. Entre as pessoas acolhidas temos jovens adultas solteiras, senhoras casadas cujos maridos foram obrigados a ficar na Ucrânia e agregados familiares apenas com mães e crianças. Acolhemos uma mãe grávida de 5 meses com um filho de 15 anos. Recebemos com calor e humanidade estas pessoas que fugiram de um cenário de terror. O objetivo deste esforço é alcançar o bem-estar das pessoas acolhidas e a sua integração social e laboral no seu novo ambiente. Por meio de equipas multidisciplinares, estas pessoas recebem também o apoio psicológico necessário, a capacitação e o apoio no trabalho. As nossas unidades de saúde adaptaram as instalações para poder acolher as famílias juntas e assim privilegiar a proximidade e união nesta nova realidade. As câmaras municipais deram o apoio para a integração das crianças nas escolas e o acompanhamento nos centros de saúde da zona de residência.
Conseguimos criar relações de grande afinidade e carinho entre ambas as comunidades, e integrámos 3 pessoas em postos de trabalho na Casa de Saúde da Idanha, de acordo com os seus interesses e gostos. O acolhimento e a integração ficam assim mais completos quando conseguimos que se incluam também no mercado de trabalho.
Irmã Paula Carneiro
Superiora da Casa de Saúde da Idanha e das Obras Hospitaleiras de Belas e Parede. Presidente da Fundação Bento Menni. Licenciada em Enfermagem; Mestre em Bioética e em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria.
Testemunhos:
“Quero expressar a minha gratidão pela forma calorosa como nos receberam. Com a vossa ajuda, vivemos em condições confortáveis, comemos bem e temos tudo o que precisamos para viver. Obrigado por rezarem pela paz na Ucrânia, ela é muito preciosa para nós. Obrigado a si e às suas irmãs.” Kristina
“Estamos muito gratos aos donos da casa que nos hospedaram. Deram-nos boas condições de vida, somos alimentados, recebemos atendimento médico, todos nos ajudam muito com nossas questões, deram-nos um emprego e preocupam-se connosco. Sentimo-nos seguros. Estamos muito gratos às irmãs que fizeram um ótimo trabalho para nos fornecer tudo o que precisamos. Desejamos muita saúde e que Deus nos guarde e proteja. Muito obrigado por existirem na terra.” Viktoria
Terça, 13 de Setembro de 2022