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Artigo dos nossos especialistas

Apresentamos a Irmã Susana Silva, licenciada em enfermagem e ciências religiosas, atualmente nas Irmãs Hospitaleiras Condeixa-a-Nova, Casa de Saúde Rainha Santa Isabel, onde é responsável pelo noviciado internacional, uma “aldeia global”, com Irmãs de diferentes nacionalidades e culturas.

 

1.Como mestra de noviças e responsável pelo noviciado internacional, pode falar-nos mais sobre o seu trabalho quotidiano e sobre a forma como prepara as Irmãs para a consagração religiosa num ambiente intercultural?

Na missão que me é confiada como formadora procuro dialogar e discernir com as Irmãs da equipa aquilo que ajuda às jovens a caminhar para “ser toda de Deus” ao serviço de quem sofre. O ambiente intercultural é uma riqueza, é como ter o ‘mundo’ dentro da mesma casa e, ao mesmo tempo, um desafio fazer experimentar a cada formanda o acolhimento e compreensão para que se abandone nas mãos do Divino Oleiro que conhece o que faz falta modelar.

 

2. O que é que considera ser o aspeto mais gratificante de guiar as novas Irmãs no seu caminho para a consagração religiosa?

Um dos aspetos que considero mais gratificante nesta missão de acompanhar é ver crescer por dentro, é escutar partilhas e reconhecer que Deus realiza maravilhas no caminho de cada uma. Sinto muita gratidão ao escutar a partilha de uma experiência forte de encontro com Deus, seja na oração, seja no serviço às “vivas imagens de Jesus”.

 

3.Para além da formação religiosa, que outras competências ou qualidades procura cultivar nas noviças durante o seu período de formação?

A formação da Irmã hospitaleira é um caminho que nos conduz para a configuração progressiva com Cristo compassivo e misericordioso, procurando pensar, amar e desejar do mesmo modo que Ele, o que implica conhecer-se, narrar-se e desenvolver a capacidade de diálogo e discernimento, cultivando os valores hospitaleiros como a sensibilidade aos excluídos e o serviço, o acolhimento, a compaixão, e as virtudes hospitaleiras como a caridade, a solicitude, a disponibilidade e a mansidão.

A formação é integral, para a pessoa toda, tem presente todas as dimensões: o autoconhecimento, a relação com Deus e com os outros, com experiências de serviço e cuidado aos irmãos que vivem uma experiência de doença ou necessitam de assistência.

 

4.Fale-nos de uma experiência significativa ou de um desafio que tenha enfrentado no trabalho com Irmãs de culturas diferentes e de como o abordou na perspetiva da hospitalidade.

Uma das experiências significativas ao partilhar a vida com irmãs jovens de culturas diferentes relaciona-se com a descoberta da importância de agradecer um gesto ou um presente, não só no dia em que se recebe, mas também no dia seguinte. Parece algo pequenino, mas valioso. Com esta experiência reconheci que a escuta e o oferecer espaço ajuda a compreender, a respeitar, a descalçar-me para acolher o mistério da outra. A deixar-me evangelizar pelas sementes de evangelho presentes e vivas em outras culturas.

 

5.É licenciada em enfermagem. Como é que integra a sua formação em enfermagem no seu trabalho de formação e acompanhamento espiritual das noviças?

É um dos aspetos que ilumina para reler e acompanhar a experiência de serviço, da prática da hospitalidade. O que fazemos, falamos e cuidamos é ao próprio Jesus, numa partilha enriquecedora de tantos intervenientes, uma equipa interdisciplinar, que colocam no centro a pessoa assistida e abraçam a missão com grande dedicação e qualidade profissional. A sensibilidade às feridas que levamos dentro, algumas cicatrizadas e outras a precisar de fazer processo. A delicadeza ao aproximar, a paciência e a esperança ajudam no processo.

 

6.Na sua opinião, quais são os valores e princípios fundamentais que orientam o trabalho das Irmãs Hospitaleiras num mundo cada vez mais diversificado e interligado?

Penso que num mundo tão diversificado e interligado brilha a luz do nosso carisma que é a hospitalidade, matriz dos valores que nos guiam, somos casa aberta, onde quem chega (ainda que seja desconhecido) se sente acolhido e também somos hospedaria/estalagem em movimento, quando saímos ao encontro de quem vive marginalizado. Observamos a possibilidade que pode estar escondida e inventamos caminhos de misericórdia, libertação, sanação e integração.

 

7 . Como é que acha que a interculturalidade contribui para a missão global das Irmãs Hospitaleiras e ao reflexo do Sagrado Coração de Jesus no cuidado dos mais necessitados?

A interculturalidade vivida em comunidade contribui para desenvolver a disponibilidade para sair de si e a atitude de acolhimento e valorização da diferença como uma riqueza. A união de corações sonhada e vivida pelas nossas primeiras irmãs e a relação com Deus que é comunhão, “leva-nos a descobrir a pegada de Deus na própria vida e em toda a criação” (Constituições, 11), e especialmente reconhece Deus nas pessoas a quem servimos.

Jesus viveu a compaixão e a misericórdia, revelando o coração do Pai, sensível aos doentes e marginalizados, sanando, integrando, levantando. Somos como Congregação, uma grande família, expressamos com os nossos rostos a profundidade da universalidade que expressava o nosso Fundador S. Bento Menni: “este amor não conhece limites, não sabe dizer basta” (Carta 587ª).  Nascemos em lugares diferentes, mas todas como mulheres consagradas, irmãs umas das outras e servidoras dos doentes, somos aprendizes do Divino Samaritano, que cuida as feridas e nelas derrama o óleo da consolação e a todos faz sentir que “uma pessoa vale mais que o mundo inteiro” (Carta 144ª).

 

8. O que diria a uma pessoa que está a considerar uma vocação para a Vida Consagrada?

Apenas diria que se sente o coração a arder, é bom fazer uma pausa e dedicar tempo de qualidade para se deixar encontrar e partilhar quais os sentimentos que bailam no coração. E convidaria a colocar-se à escuta do sonho de Deus com sinceridade e abertura. Poderia ajudar colocar esta pergunta que fizeram Maria Josefa e Maria Angustias na sua procura interior “Confiámo-nos à misericórdia do Senhor e pedindo a sua assistência dizíamos com ternura: “Meu Jesus, que quereis de nós?” (Relação sobre as Origens, p. 81). Descobre onde está o teu tesouro, e encontrarás onde está o teu coração.

 

9.Finalmente, pode partilhar algum conselho ou lição importante que tenha aprendido durante os seus anos de serviço nas Irmãs Hospitaleiras?

Uma das lições mais importante e belas que recebi ao viver a nossa “formosa vocação de caridade” (Carta 7ª) relaciona-se com o serviço, como o encontro com a pessoa que sofre se transforma, por dom, num encontro com Deus, pois Deus fala-me sem palavras, comunica tanto, sem mover-se e surpreende-me querendo receber hospedagem no meu coração. Sinto-me pequena, ao ter sido escolhida para tão bela missão, e muito feliz por sentir que o Senhor continua a chamar-me a segui-Lo, e envia-me a dar-me totalmente ao seu serviço em hospitalidade.

 

O seu trabalho inspira e ilumina!  Muito obrigada Irmã Susana, pela sua entrega e dedicação.

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