Quem nunca ouviu falar das maleitas que se agravam na “queda e rebentar da folha”?
Problemas dermatológicos, alergias podem ser mais facilmente compreensíveis, mas os problemas afetivos/depressivos deixam mais dúvidas à população em geral, bem como à comunidade científica.
As classificações psiquiátricas já há muito abordam a Perturbação Afetiva Sazonal (PAS), uma depressão associada a diminuição da exposição à luz e que provoca uma desregulação dos ciclos circadianos, originando em algumas pessoas quadros depressivos graves, que possuem algumas características particulares, com sonolência excessiva e tendência para ingestão de doces, sintomas pouco habituais nas depressões mais comuns. Devido às diferenças existentes em relação à presença de luz nos países no Inverno, conforme a sua latitude, percebe-se que as incidências desta patologia variem de país para país.
Mas se PAS se consegue explicar com estas alterações, o que se passará com as depressões na Primavera e Outono? Mais curioso até, será compreender porque as taxas de suicídio são maiores na Primavera.
Como referido, é reconhecido que Primavera e Outono são épocas de descompensações afetivas e várias teorias têm sido colocadas como explicativas.
Possivelmente, o princípio da desregulação circadiana existente na PAS, também justificará as alterações dos neurotransmissores que existem na Primavera e Outono e que por sua vez, provocam uma série de sintomas (cansaço, desmotivação, alterações do sono, etc). Mas só a exposição solar não poderá tudo justificar, porque se no Outono voltamos a ter menos luz solar, o que dizer da Primavera, onde tudo floresce, tudo parece ganhar vida e em contracorrente, surge a depressão. Será porventura este “choque” que justifica uma maior intolerância à pessoa doente, que desiste de viver?
Muitas outras teorias vão surgindo, desde mais fisiológicas com componente inflamatório, mais físicas, com magnetismos a justificar alterações endógenas. Apesar de tudo, não há certezas, pelo contrário, muitas dúvidas. A depressão como síndrome, terá sempre uma etiologia multifatorial.
Muito há a fazer pela ciência para serem reveladas as verdades sobre esta realidade, sendo certo que o futuro trará mais respostas.
O presente pede-nos, no entanto já, que não estigmatizemos a doença mental, e no particular da patologia depressiva, que não se impute ao doente depressivo a responsabilidade do seu estado, a falta de vontade e de iniciativa para a sua melhoria. Que tudo se trata com trabalho e “mudança” de mentalidade. Imputar o ónus da responsabilidade de uma depressão, à pessoa deprimida, é aumentar o “fardo” da culpa, da baixa autoestima, já bem presentes nos processos mentais de quem padece destas afeções.
A procura de ajuda especializada é fundamental para um tratamento adequado. O “aceitar” e reconhecer o problema como uma doença, desmontando o “autoestigma”, é decisivo para um melhor prognóstico. As barreiras frequentes residem por exemplo nos receios dos psicofármacos e na sua dependência, sendo certo que hoje, estes são opções seguras e essenciais para um tratamento adequado. Não só de medicamentos residem os tratamentos, mas o médico psiquiatra, ou numa primeira fase o médico de família, orientará a situação para a resposta mais ajustada.
Importante é não desvalorizar e procurar ajudar!
Drª Natália Fernandes
Drº Patrício Ferreira