Um dia acordei diferente.
Cravaram-me com uma palavra nova. Um jargão entrou no meu dia a dia.
Já vinha e sentia-me uma pessoa diferente; não dos outros, se é que me faço entender; diferente como pessoa, como modo de viver a vida.
Foi nesse dia, nunca mais esquecerei, era dia de anos da avó Liliana, que conheci a palavra nova POC. Era uma sigla, mais propriamente dita, que me foi apresentada e depois desembrulhada: Perturbação Obsessiva Compulsiva. Fiquei espantada, admirada e para ser franca chocada com este novo presente, que me iria acompanhar ao longo de todos os anos da minha vida. Sim, pois seriamos “amigas” para sempre. Ainda não o sabia; na altura pensei que seria só uma doença passageira, de curta duração. Algo breve!
Mas nada disso, mas nada disso aconteceu.
Fui internada nesse mesmo dia.
Fiquei pasmada, absorta nos meus pensamentos.
Mas porquê ficar naquele local, longe de tudo e de todos?
Percebi mais tarde da necessidade de tal atitude.
Devia-se à POC.
E a POC ficaria a ser a minha amiga POC. A POC era crónica. Dito isto POC veio para ficar. POC veio para sempre. E eu tive de me ajustar a esta nova amiga, que nem sempre o foi.
POC levou-me a internamentos diversos, a eletroconvulsivoterapia, a percorrer diversos psiquiatras e psicólogos, assim como várias tentativas de medicações até encontrar aquela com a qual eu me “identificava”.
Também nem sempre fui uma paciente à altura.
Deixei de tomar a medicação algumas vezes, pois achava que estava bem e já não era preciso continuar a tomá-la. Fica a alerta: Nunca o façam!
Tive algumas tentativas de suicídio, das quais me arrependo amargamente e, não tenciono repetir tais episódios, nunca mais!! Fica a alerta: Nunca o façam!
Hoje convivo BEM com a minha Amiga POC. Sou FELIZ com a minha doença mental. Aprendi a aceitar a POC, como parte integrante do meu ser, da minha vida.
POC é a minha Amiga. E os Amigos estimam-se. Os Amigos são para a Vida.
Grupo de Auto-representantes do Gabinete Integrado de Serviços das Irmãs Hospitaleiras-Braga (Gar-Gis).