As doenças mentais apresentam exigências que diferem caso a caso, mas em todos, o apoio familiar é fundamental. A alimentação é um dos fatores desafiantes e no qual o papel da família não pode ser esquecido, mas carece ainda de ser trabalhado.  

 

As doenças mentais caracterizam-se por um conjunto de alterações bio-psico-sociais que afetam 20% da população mundial e são caracterizadas por uma combinação de pensamentos, perceções, emoções e comportamentos singulares, os quais podem afetar as relações com outras pessoas.

 

Na Europa, 84 milhões de indivíduos já sofreram de perturbações da Saúde Mental. Segundo o primeiro Estudo Epidemiológico Nacional de Saúde Mental, coordenado pela Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa, Portugal encontra-se no segundo lugar dos países da Europa, com prevalência de cerca de 23%.

 

Entre as doenças mentais, encontram-se a depressão, o transtorno afetivo bipolar, a esquizofrenia e outras psicoses, a demência, as dependências, alzheimer, entre outras, e em alguns casos o diagnóstico é grave, com um desenvolvimento crónico, afetando o indivíduo e o seu grupo familiar. Acresce que as pessoas com problemas de saúde mental são mais propensas a ter problemas de saúde física, levando a um impacto significativo na vida social e familiar.

 

O apoio familiar a estes doentes desempenha um papel muito importante em várias vertentes, nomeadamente o respeito pela autonomia e independência, por um lado, mas por outro, atenção, afeto, diálogo, e, sobretudo com doentes parcialmente ou totalmente dependentes, apoio em tarefas como a higiene, medicação e alimentação, que acabam por ser efetuadas apenas por um dos familiares mais íntimo. Contudo, os familiares, nomeadamente os cuidadores mais próximos desses doentes mais dependentes, regra geral sentem-se sobrecarregados, existindo várias dúvidas relativamente à melhor abordagem da alimentação. A má alimentação que pode decorrer disso, pode prejudicar o estado de nutrição, agravando a fragilidade, e promovendo o desenvolvimento e/ou agravamento de múltiplas complicações, como exemplos, a imobilidade, as úlceras de pressão, a dependência funcional e o aumento do risco de complicações infeciosas.

 

Os maiores desafios e dificuldades para os familiares é a perda de peso, falta de apetite e dificuldades de deglutição, dos doentes. Para ajudar a aumentar o apetite, é essencial tornar o momento da ingestão alimentar prazeroso, e não apenas uma obrigação, e proporcionar um ambiente calmo. No caso de dificuldade de deglutição, os cuidadores podem ajudar o doente:

 

  • Proporcionando um local calmo e sem distrações para as refeições;
  • Garantindo que coma lentamente, e pequenas porções;
  • Assegurando que evite falar enquanto come;
  • Dar a porção seguinte só depois de engolir a comida que está na boca;
  • Posicionar o doente sentado na vertical com a cabeça para a frente e não inclinado para trás, enquanto come e bebe, e durante pelo menos 30 minutos após a refeição;
  • Adaptação da textura e consistência dos alimentos, mas garantindo que a refeição seja igualmente apelativa;
  • Ou recorrer a suplementos alimentares já com textura modificada existentes comercialmente.

 

Assim, é necessário, a partir do contexto de cada doente e, no caso dos doentes institucionalizados, respeitar a metodologia da Instituição e equipa cuidadora, estabelecer uma relação de confiança e colaboração de todos, em que a família não é exceção. No que se refere à alimentação, os familiares tendem a associar a alimentação com amor, carinho, conforto, e mesmo compensação, e usar as visitas à Instituição para trazer alimentos reconfortantes como doces, chocolates, gelados, bolachas, bolos, pão, refrigerantes e sumos açucarados, batatas fritas e outras especialidades fritas. As Instituições têm as dietas estabelecidas, sendo cumpridas as regras básicas de uma alimentação saudável, pelo que é desnecessário trazer alimentos do exterior. Obviamente, há sempre margem para uns “mimos” pontuais, mas quando frequentes, vão desequilibrar a dieta estabelecida e contribuir para o aumento de peso dos doentes.

 

A visita dos familiares não deve ser centrada na comida, mas sim no convívio com a pessoa querida. Poderão contribuir com outros presentes que sejam agradáveis para ocupar o tempo livre do familiar com atividades que goste como por exemplo: sopa de letras, mandalas ou outros cadernos de colorir, e estojo de lápis para colorir, livros para ler, revistas de atualidades, etc.

 

Claro que ainda há muito trabalho a fazer com os familiares por forma a melhorar a sua participação adequada.

 

Luciana Ribeiro Pereira

Valérie Michelle Vieira

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