Sabia que as Irmãs Hospitaleiras Idanha | Sintra estão a fazer uma diferença significativa na saúde mental das crianças e jovens no concelho de Sintra?
A parceria com o Município de Sintra levou à concretização de um projeto único que já proporcionou mais de 4800 consultas de especialidade desde o seu início, em 2016.
Conheça mais sobre este projecto liderado pela psicóloga clínica e psicoterapeuta Dra. Paula Loureiro, e como se integra com a missão hospitaleira de prestar cuidados integrais e compassivos a quem mais precisa.
1. Como surgiu a parceria entre as Irmãs Hospitaleiras Idanha|Sintra e a Câmara Municipal de Sintra para a realização deste projeto?
As Irmãs Hospitaleiras, e especificamente a Unidade de Saúde Idanha|Sintra, têm como missão implementar as melhores respostas às necessidades do meio envolvente. O município de Sintra, bem como outras regiões do país, apresenta uma carência importante ao nível da intervenção na área da saúde mental infanto-juvenil. Este aspeto é particularmente importante pois sabemos não só da grande prevalência de problemas de saúde mental nesta faixa etária mas também de como isso é um preditor importante de doença mental na vida adulta. Por estes motivos, a Câmara Municipal de Sintra e as Irmãs Hospitaleiras estabeleceram um protocolo para a intervenção psicológica e pedopsiquiátrica com a população mais vulnerável.
2. Qual o principal objetivo do projeto de consultas de saúde mental para crianças e jovens no concelho de Sintra?
A Área de Saúde Mental da Infância e Adolescência pretende dar resposta especializada às necessidades identificadas na comunidade. As intervenções aqui realizadas têm como objetivos melhorar o bem estar e a adaptação pessoal e social das crianças e jovens, promovendo a redução de sintomas e o desenvolvimento de mecanismos psicológicos mais adaptativos.
3. Que serviços específicos de saúde mental são oferecidos através destas consultas a crianças e jovens?
Desde Janeiro de 2016 dispomos de consultas de Pedopsiquiatria e Psicologia da Infância e Adolescência, dirigidas a pessoas entre os 6 e 17 anos. Até à pandemia existia também uma estrutura socio-ocupacional para adolescentes, o Espaço Self. Este era um projeto muito interessante mas como a população que nos é referenciada reside numa parte mais afastada do Concelho de Sintra foi complicada a sua implementação e manutenção dada a difícil deslocação dos jovens, sobretudo em períodos letivos. A articulação entre as várias entidades é por vezes bstante complexa, o que dificulta, por exemplo, que um aluno possa beneficiar deste tipo de intervenção por sobreposição com as atividades académicas.
4. Qual foi o impacto do projeto desde o seu início até à data atual em termos de número de beneficiários e resultados alcançados?
Desde Janeiro de 2016 foram realizadas 4899 consultas, 1526 de Pedopsiquiatria e 3373 de Psicologia da Infância e da Adolescência, isto é, chegámos a cerca de 488 pessoas e suas famílias. Os casos encaminhados para a nossa Unidade de Saúde são sempre de considerado nível de complexidade. Creio que as situações mais ligeiras são encaminhadas para outras respostas da comunidade como por exemplo associações e Juntas de Freguesia. Por este motivo os processos terapêuticos são na sua maioria longos. Recebemos referenciações dos Agrupamentos de Escolas, Comissões de Proteção de Crianças e Jovens, Direção Geral da Reinserção e dos Serviços Prisionais, das equipas de Apoio Tecnico aos Tribunais, entre outros. Muitos destes jovens conseguem aproveitar esta oportunidade para desenvolver competências emocionais, comportamentais e relacionais que resulta numa nova oportunidade mais adaptativa, de bem estar individual e de inclusão na sociedade.
5. Qual é o seu papel enquanto gestor do projeto e chefe do serviço de psicologia no processo de tratamento dos pacientes?
Dos encaminhamentos recebidos, e porque são largamente superiores à nossa capacidade de resposta imediata, é necessário triar, com a informação de que dispomos, o grau de urgência de cada situação e encaminhar para as consultas de Pedopsiquiatra, Psicologia da Infância e Adolescência ou ambas. Em reuniões regulares da equipa interdisciplinar vamos discutindo estas referenciações e adequando o plano individual de intervenção de cada criança ou jovem. Ainda que o financiamento seja direcionada para as consultas com as crianças e jovens, naturalmente há sempre um trabalho importante que é realizado com as famílias seja ao nível de algum suporte emocional e/ou de um trabalho mais psicoeducativo.
6. Que valores e princípios da missão hospitaleira das Irmãs Hospitaleiras se aplicam especificamente a este projeto de consulta de saúde mental?
As Irmãs hospitaleiras têm como missão chegar aos mais vulneráveis com a melhores práticas clínicas. Estas crianças e jovens que nos são referenciados pelas escolas pertencem a famílias mais carenciadas, ou, como referi anteriormente, estão em situações de grande vulnerabilidade no seu meio socio-familiar. Também recebemos jovens com medidas tutelares educativas cujo trabalho passa por um desenvolvimento pessoal que resulta em padrões de comportamento e de relacionamento interpessoal mais adaptados, permitindo assim uma melhor integração na sociedade.
7. Como encara o futuro do projeto? Existem planos para o expandir ou acrescentar novas iniciativas relacionadas com a saúde mental e o bem-estar na comunidade?
Vamos continuar a apostar na promoção da saúde mental, isto é na colaboração com a comunidade com ações de sensibilização na área da saúde mental, nomeadamente abordando temas como fatores de risco e fatores protetores, sinais de alerta e trabalhar na redução do estigma e no incentivo à procura de ajuda.
Naturalmente, dar continuidade a esta atividade clinica interdisciplinar tão importante.
Idealmente gostaríamos também de realizar algum trabalho com as famílias, nomeadamente com grupos de intervenção.
A possibilidade da reativar a estrutura socio-ocupacional é também muito interessante mas precisaríamos de outras condições para assegurar a participação dos jovens.