Com a Páscoa de Jesus o tempo converte-se em outro tempo, um tempo com cheiro a primavera, misturado de essências atlânticas, banhado em tons de verde onde se misturam o colorido das azálias, das hortências e muitas outras pétalas que, juntas, atapetam as ruas onde a festa acontece e se vive!

 

Na alegria do Ressuscitado, as ilhas que são Açores, trazem ao de cima a explosão da fé e da religiosidade, que se diz de “popular”, e é tão popular quanto a verdade de cada coração, quanto a esperança de cada gesto e de cada sorriso, onde não se conhece onde começa o “religioso” e acaba o “profano”. Nada é profano quando brota de uma vida e de uma história onde se vão rezando cada conta do rosário da existência: e é o Espírito Santo que Se converte em Império, onde a realeza de Deus cintila na prata das Coroas que atraem os dons do Divino sobre os coroados, onde a mesa concretiza o “todos, todos, todos” de Francisco e Deus Se confunde com os homens banqueteando-Se na mesma mesa de fraternidade, solidariedade, partilha e sentido dos outros! “Viva o Espírito Santo! Viva!

 

Eis o tempo onde é tempo de tocar os sinos das Igrejas e de estalar foguetes festivos que, por estas bandas se chamam de “roqueiras”.

 

E eis que é festa! Muitas festas! Sempre que reconhecemos Jesus no meio de nós é festa!

 

Não faltam luzes, flores, ruas coloridas, colchas nas janelas, filarmónicas, pipocas e demais iguarias festivas. Não falta o perfume do incenso, as opas vermelhas, foguetes… e tanta gente junta! Não faltam promessas e círios aos molhes, joelhos no chão e pés descalços porque o Senhor dos Milagres merece tudo e, mais que tudo, merece-nos. É a festa do Senhor! Do Senhor Santo Cristo dos Milagres! E a hospitalidade volta a acolher e sarar feridas e a consolar corações pelas mãos afetuosas da equipa de enfermagem da Casa de Saúde de Nossa Senhora da conceição que se presta a cuidar das feridas dos peregrinos; em cada curativo um olhar e uma palavra… em cada lágrima um conforto… em cada sofrimento um bálsamo, afinal, a hospitalidade não sabe ser e fazer outra coisa! E concretiza-se o gesto das primeiras: Maria Angústias e Maria Josefa: lavar os pés, não já e apenas ao primeiro peregrino, mas a todos!

 

Uns dirão que é a festa do Senhor, mas prefiro pensar e dizer que é a festa do povo que tem um Deus tão próximo: a festa é nossa e nossa porque Jesus é a nossa Festa! Com Ele estamos sempre em festa!

 

O Senhor voltou ao meio do seu povo, não que já não estivesse, mas para que nunca percamos a certeza de que, realmente Ele nunca Se ausenta! É o Senhor dos Milagres porque Ele é o maior milagre do Amor e da Vida! E o “milagre” sempre acontece, porque o olhar é penetrante, misericordioso e compassivo, onde podemos apreender e colher a hospitalidade como forma de ser e de estar! O “milagre” sempre acontece porque os sinais, embora sejam os mesmos de sempre, surgem permanentemente renovados e renovadores, profundamente desafiantes e desafiadores: a presença do Ressuscitado no meio de nós é sempre comprometedora! E a Hospitalidade é o “milagre” de uma só orelha, a do lado do coração, o milagre” de Quem escuta e guarda bem no fundo de um coração «manso e humilde», que não guarda como quem arruma uma peça de museu que o tempo se encarrega de empoeirar, mas guarda como quem coloca amorosamente uma vida na sua própria vida! A Hospitalidade implica que a vida do outro me diga diretamente respeito.

 

Voltam-se os olhares para o florido andor onde Se mostra o “milagre” do Deus “sem pernas”, segredando-nos que não há alternativa possível que não seja estar onde O colocamos: não há hipótese de fuga! Permanentemente connosco e a nosso lado, em todos e em cada um! A Hospitalidade exige presença, um lado-a-lado que faz caminho em estilo sinodal, sabendo-nos parte de um corpo.

 

Contemplar o Senhor dos Milagres é, como nos convida a primeira Linha Nuclear do Documento Capitular, (RE) descobrir a” Misericórdia como um abraço que cura e gera comunhão”, levando-nos a fazer a experiência de nos sentirmos amados, curados e renovados, onde, no horizonte está a experiência pessoal da conversão ao próprio amor e misericórdia (misericordiados para misericordiar), onde o caminho só pode ser o da renovação espiritual e carismática, bebendo das fontes da salvação. E a salvação é Jesus Cristo!

 

O nosso Santo Cristo passa pelas ruas da cidade como quem percorre a “via-sacra” dos homens, a via dolorosa de uma humanidade carente e faminta de amor, paz, justiça, vida e esperança!

 

A Hospitalidade não é, nem pode ser alheia aos “Calvários” deste tempo, mas é chamada a ser Cireneu, carregando cruzes que não só nossas como aqueles que carregam o andor do Senhor. A Hospitalidade é festa que faz festa nos sem festa, filarmónica na “procissão” dos desvalidos e excluídos deste mundo, deste tempo e de tatos que ainda se sentem à margem da misericórdia que tarda-lhes a ser exercida, é “algodão-doce” e pipocas nos privados das “doçuras” da esperança e do acolhimento, é andor que transporta tantos “Santos Cristos” de carne e osso, que têm um nome igual ao meu, ao teu e aos nossos: filhos de Deus!

 

Afinal, este tempo de festa, só pode ser tempo de Hospitalidade, de gritarmos sem medos ou receios: “Ecce Homo”. Eis o Homem!”. “Eis os homens que aqui e agora, aqui e acolá, são os Cristos vivos!

 

A Hospitalidade não nos deixa ver a “procissão passar” sem que nela nos incorporemos e nos envolvamos. Não sejamos “levitas” nem “sacerdotes” nos caminhos entre Jerusalém e Jericó: só os “samaritanos” são hospitaleiros!

Estes é o tempo da festa e das festas! E a verdadeira Hospitalidade é uma festa… e das grandes!

 

Pe. Norberto Brum

Capelão das Irmãs Hospitaleiras Ponta Delgada | Casa de Saúde Nossa Senhora da Conceição

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