A Organização Mundial de Saúde, define saúde, como um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença ou enfermidade (1).
Em Portugal, as perturbações psiquiátricas têm uma prevalência de 22,9%, uma das mais elevadas da Europa, o que representa desta forma um importante desafio da atualidade (2).
A alimentação e a nutrição, encontram-se enquadradas nos fatores associados ao estilo de vida, constituem alvos terapêuticos modificáveis, e tem-se verificado um papel de destaque na prevenção e tratamento das patologias do foro psiquiátrico (3-4).
O ramo da nutrição psiquiátrica surge como uma abordagem possível para uma gestão mais eficiente e a minimização do impacto global associado à doença mental (5). A evidência sugere que a importância dos hábitos alimentares no contexto das doenças crónicas não transmissíveis, podem também estender-se à patologia mental, tendo este fato sido reiterado no estudo de Jacka et al. onde foi possível identificar uma existência de uma associação entre a prática de um padrão alimentar do tipo ocidental e uma maior probabilidade de ocorrência de sintomatologia e distúrbios psicológicos (6).
Se considerarmos a alimentação como um todo, em vez de nutrientes de forma isolada, a Dieta Mediterrânica, destaca-se como uma útil estratégia em indivíduos com sintomas depressivos (7).
A Dieta Mediterrânica é caraterizada por alimentos diversificados e que contêm uma variedade de nutrientes necessária ao bom funcionamento do organismo. Alimentos vegetais (como cereais, frutas, legumes, leguminosas, nozes, sementes e azeitonas), ingestão elevada a moderada de peixe e marisco, consumo moderado de ovos, carnes brancas e produtos lácteos (queijo e iogurte) e reduzido consumo de carnes vermelhas e de álcool (apenas vinho durante as refeições). O azeite surge como a principal fonte de gordura adicionada à dieta (8).
Apesar de serem inúmeros os benefícios documentados (9), tais como a diminuição da mortalidade, doenças cardiovasculares, cancro e diminuição da incidência de doença da Parkinson e Alzheimer, tem-se verificado um declínio de adesão à Dieta Mediterrânica devido à disseminação da economia do tipo ocidental, impulsionada pela tecnologia, tal como a globalização da produção e consumo de alimentos consequentes da uniformização dos comportamentos alimentares modernos (10).
Sánchez-Villegas A. Et al. (11) concluíram que a adesão à Dieta Mediterrânica está relacionada a um menor desenvolvimento de perturbações depressivas. Neste sentido foram publicados dois ensaios clínicos randomizados que testaram a Dieta Mediterrânica quanto à sua eficácia na intervenção dietética em doentes com perturbação depressiva no tratamento desta patologia.
Sendo que o primeiro foi desenvolvido por Jacka F et al, (autores já anteriormente aqui mencionados) (12), em que foi analisada a evolução dos sintomas depressivos após
intervenção dietética com a promoção da adoção de uma dieta muito semelhante à Dieta Mediterrânica. E comparados os resultados, com o grupo de controlo, sujeito a um protocolo de intervenção social, os resultados foram muito positivos a favor do grupo intervencionado a nível dietético, isto veio indicar que a melhoria na dieta poderá consistir numa estratégia de tratamento acessível e eficaz na patologia depressiva.
O segundo ensaio clínico, elaborado por Parletta N. et al. (13), estes apuraram que quanto maior a adesão à Dieta Mediterrânica, menor a associação da sintomatologia depressiva, descrevendo que as alterações dietéticas neste sentido são possíveis de alcançar e, quando complementadas com a suplementação com óleo de peixe (rico em ómega-3), podem melhorar ainda mais a saúde mental em doentes com depressão.
Segundo o artigo de revisão de Charneca S, et al. (14), Indivíduos com doença psiquiátrica, que apresentam uma alimentação saudável e nutritiva, podem apresentar benefícios ao nível da saúde mental, além dos restantes benefícios já enormemente conhecidos. Desta forma, recomenda-se uma dieta do tipo mediterrânica, que representa um padrão alimentar não restritivo e culturalmente adequado à população portuguesa.
Mónica Nunes
Nutricionista CP:3214N
Referências Bibliográficas:
1. International Health Conference. Constitution of the World Health Organization. 1946. Bull Word Health Organ. 2002; 80 (12): 983-4.
2. Conselho Nacional de Saúde. Sem mais tempo a perder – Saúde Mental em Portugal: Um desafio para a próxima década. Lisboa: CNS. 2019.
3. MÖrkl S, Wagner-Skacel J, Lahousen T, Lackner S, Holaset SJ, Bengesser SA et al. The Role of Nutrition and the gut brain axis in psychiatry: A Review of the literatura. Neuropsychobiology – 2019; 17: 1 -9 .
4. Sarris J. Nutritional Psychiatry: From concept to the clinic. Drugs. 2019; 79 (9): 929-34.
5. Jacka FN. Nutrional Psychiatry: Were to next? EBioMedicine. 2017; 17:24-9.
6. Jacka FN, Pasco JÁ, Mykletun A, Williams LJ, Hodge AM, O´Reilly SL, et al. Association of Westrern and tradional diets whith depression na anxiaety in women. Am J Psychiatry. 2010; 167 (3): 305-11.
7. Ventriglio A, Sancassiona F, Contu MP, Latorre M, Di Slavatore M, Fornaro M, et al. Mediterranean Diet and its Benefits on Health anda Mental Health: A Literature Review. Clin Pratct Epidemiol Ment Health. 2020; 16 (Suppl – 1): 156-64.
8. Willett WC; Sacks F, Trichopoulou A, et al. Mediterranean dieta pyramid: a cultural model for health eating. Am J chin Nutr 1995; 61: Suppl 6: S 1402- S1406.
9. Sofi F, Cesari F, Abbate R et al. (2008) Adherence to Mediterranean diet and health status: meta-analysis. BMJ 337 a 1344.
10. Bach-Faig A, et al. Mediterranean diet pyramid today. Science and Cultural uldates. Public Health Nutr. 2011; 14, 2274-2284.
11. Sanchez- Villegas A, Delgado- Rodriguez M, Association of the Mediterranean dietary pattern whith the incidence of depression: the seguimento Universidad de Navarro/University of Navarro folloe-up (SUN) cohort. Archives of General Psychiatry, vol.66, no 10, pp 10 90-1098, 2009.
12. Jacka FN, O´Neil A, Opie R, Itsiopoulos C, Cotton S, Mohebbi M, et al. A randomised controlled trial of dietary improvement for adults whith major depression (the “SMILES” trial). BMC Med 2017; 15:23.
13. Parletta N, Zarnowiechi D, Cho J et al. A Mediterranean – Style dietary intervention Suplemented with fish oil improves diet quality and mental health in people with depression: A randomized controlled trial (HELFIMED), Nutrional Neuroscience, 2017.
14. Charneca S, Guerreiro C: Saúde Mental em Perspetiva – O papel da Nutrição e da Microbiota Intestina: Artigo de Revisão. Acta Portuguesa de Nutrição 17 (2021) 58-62