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O papel do cuidador Informal

Equipa de Saúde Mental Comunitária de Intervenção Especializada na Demência. O papel do cuidador Informal

 

A Organização Mundial de Saúde estima que em todo o mundo existam 47.5 milhões de Pessoas com Demência, número que pode atingir os 75.6 milhões em 2030 e quase triplicar em 2050 para os 135.5 milhões. Em Portugal estima-se que o número de casos com demência ultrepasse os 200 mil, número que subirá para os 322 mil casos até 2037.

Tendo em conta que a demência constitui um problema de saúde pública, nomeadamente com a sua progressão lenta, incapacidade que provoca, cuidados especializados necessários e a exigência ao nível da supervisão, observação e cuidados urge a criação de respostas de proximidade que vão ao encontro das verdadeiras necessidades destes doentes e dos seus cuidados.

Esta realidade assume contornos particularmente preocupantes em comunidades desfavorecidas como é o caso de Queluz e Belas, quer pela escassez e dificuldades de acessibilidade a respostas especializadas, quer pela baixa literacia em saúde mental que resulta na falta de consciencialização da necessidade em recorrer a estes serviços. Acresce o fato do diagnóstico social local apontar para grandes dificuldades em mobilizar a população desta freguesia na utilização dos recursos no âmbito da saúde e neste sentido esta resposta de proximidade constituir-se como um garante do acesso a intervenções especializadas em saúde mental.

Nesta conformidade Equipa de Saúde Mental Comunitária de Intervenção Especializada na Demência (ESMCIED) surge para promover a acessibilidade e equidade dos doentes com demência e dos seus cuidadores a serviços de saúde especializados no âmbito da estimulação cognitiva para a pessoa com demência e no âmbito da capacitação para o cuidado para os respetivos cuidadores informais/ familiares.  Este é um projeto da Área de Envelhecimento e Demências da Casa de Saúde da Idanha que nasceu em 2023, financiado pelo Plano de Recuperação e Resiliência na operação integrada local de Queluz Belas.

Esta é uma equipa multidisciplinar que tem como premissa chave a articulação intersectorial na resposta às pessoas com demência desta comunidade. A referenciação das pessoas com demência é feita pela união de freguesias, cuidados de saúde primários, autarquia entre outras estruturas da comunidade.

A Casa de Saúde da Idanha entidade promotora desta equipa, tem experiência acumulada de mais de 15 anos no diagnóstico, tratamento e reabilitação de doentes com demência assegurando-se assim a qualidade assistencial e científica da intervenção desta equipa.

 

O cuidador informal da pessoa com demência desempenha um papel insubstituível e verdadeiramente crucial na manutenção das capacidades cognitivas, relacionais e funcionais do seu familiar. Estes cuidadores são os verdadeiros pilares de apoio que permitem que muitas pessoas com demência possam permanecer no seu domicilio o maior tempo possível, evitando a institucionalização precoce. O seu pepel é fundamental na preservação da qualidade de vida e da dignidade da pessoa com demência. É assim necessário que estes recebam o devido suporte e capacitação, de modo a poderem prestar esses cuidados essenciais da melhor forma possível, minimizando o desgaste físico e emocional a que estão sujeitos.

Foi com esta premissa que a ESMCIED selecionou algumas recomendações/atividades para os cuidadores incluírem na sua rotina de apoio à pessoa com demência.

Estas atividades visam a estimulação global da pessoa com demência, promover a qualidade de vida e retardar o declínio das capacidades funcionais, cognitivas e sociais. Apresentam-se em seguida algumas sugestões de atividades.

 

ATIVIDADES COGNITIVAS:

Estas atividades permitem manter ou melhorar o funcionamento global do cérebro através da ativação de diferentes funções cognitivas, nomeadamente: orientação, atenção/ concentração, linguagem e memória.

De seguida, apresentamos algumas atividades que estimulam cada uma destas funções cognitivas. Sublinha-se que, embora as atividades estejam categorizadas pela função cognitiva principal que visam trabalhar, cada uma pode também estimular diversas outras funções cognitivas.

  1. Orientação:
  • Incentive o seu familiar a marcar diariamente os dias da semana num calendário: de manhã poderá fazer um círculo no dia e à noite colocar um X a sinalizar que o dia terminou;
  • Percorra com o seu familiar as diferentes divisões da casa, ajudando-o a situar-se nos diferentes espaços e a associá-los a diferentes tarefas (quarto – dormir; cozinha – lanchar, …);
  • Utilize um quadro de notas com o seu familiar: de manhã escrevam em conjunto as tarefas mais importantes a realizar durante o dia e à noite verifiquem o que foi possível realizar.

 

  1. Atenção/ Concentração:
  • Promova a realização de atividades de pesquisa visual, como Sopa de letras, Encontre as Diferenças ou Sudoku;
  • Envolva o seu familiar em jogos que ele conheça, como alguns jogos tradicionais de cartas, Dominó, Damas ou Bingo;
  • Realize atividades de cálculo mental e escrito. Comece com operações simples.
  1. Linguagem:
  • Realize tarefas de nomeação: apresente objetos reais ou em imagem e peça ao seu familiar para dizer o nome de cada um deles (por exemplo: peças de roupa, alimentos, utensílios de cozinha, objetos pessoais);
  • Desafie o seu familiar a escrever/ dizer listas de nomes de uma determinada categoria (por exemplo: animais, frutos, meios de transporte, países, profissões);
  • Incentive a realização de atividades de leitura e escrita: escrever o próprio nome, notas, postais e listas; ler palavras isoladas, frases ou textos com conteúdo positivo e do agrado do seu familiar.
  1. Memória:
  • Estimule a recordação de eventos passados, tendo em consideração a relevância do tema para o seu familiar. Poderá estimular a conversação sobre memórias relacionadas ao 25 de Abril, tradições associadas a épocas festivas, o dia do seu casamento/ nascimento dos filhos, figuras céleres do seu tempo;
  • Realize tarefas de memorização com objetos familiares: comece por apresentar 3 objetos para que o seu familiar os possa memorizar, de seguida tape-os e peça para dizer quais foram. Se a pessoa não evocar a resposta de forma espontânea, poderá dar-lhe algumas pistas. Se considerar pertinente poderá aumentar a complexidade da tarefa incluindo mais objetos;
  • Conte uma história pequena e simples de forma pausada ao seu familiar e de seguida faça questões objetivas relacionadas com a mesma ou peça-lhe para recontar a mesma história.

 

ATIVIDADES MOTORAS:

Estas atividades permitem manter ou melhorar a funcionalidade, autonomia e qualidade de vida da pessoa com demência, contribuindo para prevenção de quedas, para a capacidade de realização de atividades de vida diária e, em última instância, para a permanência da pessoa no seu domicílio retardando a necessidade de institucionalização.

  • Incentive a realização de atividades básicas de vida diária que o seu familiar consiga realizar (com ou sem a sua supervisão), nomeadamente: banho, vestir/ despir, sentar/ levantar;
  • Realize caminhadas diárias valorizando diferentes tipos de pisos e inclinação, podendo ainda incluir subida/ descida de escadas;
  • Promova a realização de movimentos amplos, como fazer a cama, estender uma toalha de mesa ou subir e descer estores;
  • Motive o seu familiar para a realização de tarefas que exigem maior detalhe/ precisão: manusear frascos, abotoar camisas e fechos de correr, estender roupa com utilização de molas, manusear de talheres, entre outras atividades que apelam à motricidade fina.

 

 ATIVIDADES MULTISSENSORIAIS:

A estimulação multissensorial relaciona-se com os comummente designados 5 sentidos.

As capacidades sensoriais configuram-se como meios de interação com o ambiente, fundamentais para o desenvolvimento de estratégias de comunicação não-verbal que poderá tomar o lugar da comunicação verbal com a progressão da doença.

Neste sentido é crucial estimular as capacidades sensoriais: visão, audição, tato, olfacto e paladar.

  1. Visão:
  • Chame a atenção do seu familiar para paisagens e cenários ricos em cores, contrastes e detalhes;
  • Reforce informações visuais importantes, como a marca das passadeiras, os semáforos e sinalizações de perigo;
  • Priorize ambientes visualmente apelativos no dia-a-dia da pessoa, como por exemplo: à refeição opte por um prato com alimentos divididos ao invés de misturados, por alimentos de cores variadas e evitando ausência de contraste (alimento branco num prato branco).

 

  1. Audição:
  • Coloque música do interesse do seu familiar;
  • Reduza ruídos/ sons desagradáveis e desnecessários no ambiente;
  • Promova atividades de identificação de sons, em casa ou no exterior, nomeadamente: de animais, de objetos, de elementos da natureza, vozes de pessoas conhecidas ou objetos. Opte sempre por dar ênfase a estímulos sonoro importantes, como sirenes de veículos de emergência, por exemplo.

 

  1. Tato:
  • Incentive o seu familiar a explorar elementos da natureza com as mãos ou pés descalços;
  • Promova o toque como complemento à relação (abraçar, tocar no braço enquanto fala);
  • Na confeção de alimentos, promova o toque nas frutas e legumes;

 

  1. Olfato:
  • Incentive a possibilidade do seu familiar cheirar flores, alimentos, sabonetes;
  • Varie o cheiro de gel de banho/ creme hidratante do seu familiar;
  • Utilize velas aromáticas em casa, tendo sempre o cuidado de não misturar cheiros diferentes numa mesma divisão.

 

  1. Paladar:
  • Envolva o seu familiar na degustação dos alimentos para ajuste de temperos durante a confeção das refeições;
  • Ofereça ao seu familiar água aromatizadas com frutas/ ervas aromáticas como hortelã, canela e limão;
  • No caso da alimentação pastosa, opte por triturar e apresentar os purés com os sabores e alimentos isolados, ao invés de os triturar todos juntos.

 

 ATIVIDADES OCUPACIONAIS:

O envolvimento em ocupações significativas é um mecanismo para satisfazer as nossas necessidades e interesses.

As atividades ocupacionais permitem à pessoa com demência explorar, recuperar, desenvolver e expressar a sua identidade pessoal ao mesmo tempo que aprende, recorda e domina competências. Adicionalmente, as ocupações contribuem para a organização do dia a dia e conferem-lhe significado por permitirem criar rotinas que representam a identidade da pessoa através daquilo que ela faz.

Seguem-se algumas sugestões de atividades ocupacionais: Jogos de mesa/ tradicionais; Pintura; Jardinagem; trabalhos manuais/artesanais; Atividades religiosas e artísticas, etc.

Ao incluir atividades cognitivas, motoras, multissensoriais e ocupacionais na rotina do seu familiar, estará a reforçar competências que promovem o seu bem-estar e qualidade de vida.

O Manual de Estimulação Global da Pessoa com Demência – um Guia para cuidadores informais, pode ser levantado gratuitamente na Casa de Saúde da Idanha – Irmãs Hospitaleiras | Sintra.

 

Para mais informações sobre a equipa e o manual:

📍 Equipa de Saúde Mental Comunitária de Intervenção Especializada na Demência

Irmãs Hospitaleiras Idanha | Sintra

 

Autor:

Beatriz Lopes | Neuropsicóloga

 

 

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