São muitas vezes os “nós na garganta”, as “dores de cabeça” e as “dores de barriga” no recreio, que nos chamam a atenção para a necessidade de percebermos a função das emoções. E é exatamente no momento em que estabelecemos a ligação entre o que estamos a sentir, e a parte da nossa experiência pessoal que poderá ter sido ativada nesse momento, ou seja, o que nos amedronta, o que nos magoa e quais são os nossos limites e necessidades que não estão a ser respeitados, que iniciamos a descoberta da função de cada uma das emoções, que nos permitem responder de forma ajustada no nosso dia- a-dia. A verdade é que quando as nossas emoções não são identificadas e libertadas de forma ajustada, isto é, através da expressão emocional, o nosso corpo ocupa-se desta função manifestando-as através de sintomas físicos. Esta transformação de emoções em sintomas, conduz-nos a um labirinto que diminui a nossa capacidade de autorregulação e que aprisiona a nossa capacidade de compreender a situação que estamos a experienciar. Esta é história de muitos de nós, adultos, que vivem aprisionados num labirinto, e que se convencem que a porta de saída não existe. Aprender a esconder as emoções, torna-se um modo de funcionamento que aumenta a dificuldade em relacionarmo-nos com o nosso mundo interno e com o dos outros, que condiciona a capacidade de confiar, e nos leva a desenvolvermos a crença de que “não temos o direito de sentir”. Incentivarem-nos a não falar sobre o que pensávamos e o que sentíamos, conduziu-nos à porta de entrada do labirinto.

Tal como nós, as crianças também estão tristes, sentem medo, sentem raiva, sentem-se sozinhas e envergonhadas. Há algumas que pedem ajuda, falam-nos das “dorzinhas”. Outras mudam de comportamento e “ficam de mau humor”. E há aquelas que se “apagam”. O que estarão elas a querer dizer-nos? Estarão a pedir-nos para que as ajudemos a entender o que se passa dentro se si? É chegado o momento de falarmos da importância das emoções. De nos apercebermos que, também nós nos sentimos assim. Que o medo, a tristeza, a raiva também falam dentro de nós.

Quando a criança começar a manifestar as suas emoções, mesmo que inicialmente o faça de forma desorganizada e mais indireta, é fundamental que não procuremos distraí-la do que está a sentir e de que não haja uma atitude de desvalorização. A criança que deixa de demonstrar as suas emoções, não deixa de as sentir.

Cabe aos adultos o grande desafio de guiar as crianças neste processo de expressão emocional, aceitando sem julgamento, acolhendo com empatia e sendo capazes de identificar as suas necessidades não atendidas. Aí estaremos a descodificar a linguagem das emoções: “Quando oiço: não quero, não sou capaz, não me apetece…talvez queiras dizer-me: estou triste, sinto-me inseguro e com medo.”

Da próxima vez que a criança se queixar de um “nó na garganta”, sejamos o guia que as conforta, que as acolhe e lhes mostra que a dor pode ser uma oportunidade de evolução, de crescimento mútuo, dando-lhe a possibilidade de se conhecer agora, descobrindo o que a magoa e o que a assusta. Para que servem as emoções? Para nos guiarem em direção à porta de saída do labirinto.

Ana Oliveira

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