Ser+: Treino de Competências Sociais e Emocionais na Reabilitação Psicossocial

 

A literatura científica aponta que indivíduos com diversas condições de saúde mental frequentemente experienciam uma redução a longo prazo das competências sociais. Essa diminuição pode impactar significativamente a qualidade de vida e a capacidade de interação social. Contudo, estudos têm consistentemente demonstrado que o treino de competências sociais é um meio eficaz para mitigar a ansiedade social e melhorar a qualidade de vida de forma geral.

Nesse contexto, a intervenção com o Projeto “Ser+”, desenvolvida em unidades de Reabilitação Psicossocial e Integração Social (RPIS), teve como foco principal potencializar a autonomia e o desenvolvimento de capacidades sociais, emocionais e mentais dos seus participantes. A iniciativa visou preencher uma lacuna crucial na recuperação de indivíduos com transtornos mentais, fornecendo ferramentas essenciais para uma vida mais independente e integrada.

O objetivo primordial do projeto “Ser+” foi potenciar o desenvolvimento de competências emocionais e sociais nos participantes. Este enfoque visa equipar os indivíduos com as habilidades necessárias para navegar em suas interações diárias, gerenciar suas emoções e melhorar sua perceção de bem-estar.

A intervenção “Ser+” foi cuidadosamente delineada para maximizar seus resultados.

O projeto envolveu 24 mulheres, com idades compreendidas entre os 42 e os 80 anos, todas em internamento psiquiátrico na CSCP, especificamente na área de RPIS. A homogeneidade do grupo em termos de sexo e contexto de internamento permitiu uma análise mais focada dos impactos da intervenção.

A metodologia consistiu na realização de 20 sessões de treino de competências emocionais e sociais. Essas sessões foram estruturadas em torno de quatro elementos essenciais: Psicoeducação: Fornecimento de informações sobre saúde mental e estratégias de coping. Autoconsciência e Autogestão: Desenvolvimento da capacidade de reconhecer e gerenciar as próprias emoções e comportamentos. Consciência Social: Melhoria da habilidade de compreender e responder aos sentimentos e necessidades dos outros. Competências de Relação Interpessoal e Tomada de Decisão: Reforço das habilidades de comunicação, resolução de conflitos e escolhas informadas.

As sessões tiveram uma frequência semanal, com a duração de 45 minutos cada, garantindo uma abordagem consistente e adaptada à capacidade de atenção dos participantes.

Para avaliar a eficácia do projeto, foi aplicada uma bateria de testes em dois momentos distintos: pré e pós-implementação. Os instrumentos utilizados incluíram: Escala de Ansiedade, Depressão e Stresse (EADS-21): Inventário Clínico de Auto-Conceito (ICAC); Bateria de Avaliação Frontal (FAB); Escala de Qualidade de Vida Gencat.

Os resultados obtidos com o projeto “Ser+” foram promissores e demonstraram melhorias significativas em diversas áreas. As médias obtidas nos dois momentos de avaliação (pré e pós-intervenção) refletiram avanços notáveis, abrangendo os seguintes domínios: Funções Cognitivas: houve melhorias nas habilidades relacionadas ao raciocínio, memória e atenção. Auto-Conceito e Autoestima: os participantes apresentaram uma perceção mais positiva de si mesmas e um aumento na autoconfiança. Sintomas Depressivos, de Ansiedade e/ou de Stresse: os níveis de sofrimento psicológico diminuíram consideravelmente. Perceção da Qualidade de Vida: as participantes relataram uma maior satisfação com a vida e bem-estar geral.

O projeto “Ser+” forneceu dados importantes sobre os benefícios tangíveis do treino de competências emocionais e sociais no processo de reabilitação psicossocial. Esta intervenção não só promoveu uma melhoria nas interações interpessoais, nas habilidades de resolução de problemas e na assertividade, como também contribuiu para o fortalecimento da autoestima, da autoconfiança e do autoconhecimento. Ao capacitar os indivíduos a enfrentar desafios de maneira mais eficaz, o projeto facilitou significativamente o processo de reintegração social.

Em última análise, este tipo de treino pode resultar em maior independência, capacidade de ajustamento social, qualidade de vida e bem-estar emocional para as pessoas envolvidas no processo de reabilitação psicossocial. Considerando os resultados positivos alcançados, a continuidade deste projeto é altamente recomendada, com a previsão de replicação noutras áreas de intervenção com outros participantes. Esta expansão permitirá consolidar os achados e estender os benefícios a um público mais amplo.

 

Referências
(1) Vyskocilova, J., & Prasko, J. (2012). Social skills training in psychiatry. Act Nerv Super Rediviva, 54(4), 159-70.
(2) Ribeiro, M. C., & Bezerra, W. C. (2015). A reabilitação psicossocial como estratégia de cuidado: percepções e práticas desenvolvidas por trabalhadores de um serviço de saúde mental. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 26(3), 301-308.
(3) Turner, D. T., McGlanaghy, E., Cuijpers, P., Van Der Gaag, M., Karyotaki, E., & MacBeth, A. (2018). A meta-analysis of social skills training and related interventions for psychosis. Schizophrenia bulletin, 44(3), 475-491.

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