Vitamina D. Qual o interesse em dosear e a quem prescrever?

A vitamina D é uma vitamina lipossolúvel, descoberta nos anos 20. A suplementação deliberada deste nutriente esteve envolto em várias discussões pela comunidade científica. Questões como qual o benefício no seu doseamento, a sensibilidade da técnica aplicada, o valor de referência e o benefício vs risco da suplementação generalizada, continuam a ser alvo de investigação e atualização.

Estima-se que cerca de 78% da população Portuguesa tem insuficiência de Vitamina D1, sendo esta percentagem flutuante ao longo do ano, isto é, no verão apresenta o valor mais baixo (62%) e atinge no inverno valores de cerca de 95%.

A deficiência de vitamina D é reconhecida como fator de risco para infeções, doenças auto-imunes, metabólicas, oncológicas e cardiovasculares 2.

A avaliação dos níveis séricos é possível mediante a quantificação da 25 hidroxi-vitamina D (25OH vitD), uma pré-hormona produzida no fígado, cuja concentração sérica óptima para cada indivíduo é variável e determinada pela capacidade em suprimir a secreção da hormona paratiróide; estimular a síntese renal adequada de 1,25 di-hidroxivitamina D, por forma a garantir a absorção intestinal de cálcio, e para prevenção de endpoints, como sejam as fraturas osteoporóticas.

Presentemente, considera-se um doseamento normal de 25OH vitD, valores ≥ 20ng/ml, insuficiente entre 12 e 20ng/ml e deficiente ≤ 12 ng/ml2. São apontadas como causas de deficiência ou resistência vitamina D:

– deficiente consumo ou absorção, relacionado com reduzido aporte dietético, mal absorção, cirurgias bariátricas, doença inflamatória intestinal;
– reduzida síntese pelo organismo devido a exposição solar reduzida ou hiperpigmentação cutânea;
– deficiente 25-hidroxilação por cirrose e obesidade;
– aumento do catabolismo da vitamina D induzida por fármacos como a fenitoína;

Como poderemos ter acesso à vitamina D?

A vitamina D pode ser obtida a partir de alimentos, suplementos alimentares ou ser produzida endogenamente a partir da pele, mediante exposição à radiação ultravioleta1,2. Exemplos de alimentos ricos em vitamina D2, de salientar o óleo de fígado de bacalhau, salmão, cogumelos expostos à radiação ultravioleta, cavala, atum, produtos lácteos e sumo de laranja.
A dose diária de vitamina D necessária para adultos com exposição solar deficitária, isto é sem exposição solar diária eficaz definida como 10 a 15 minutos2, está estimada em cerca de 15 a 20mcg de colecalciferol (600 a 800 unidades internacionais), contudo doentes de alto risco necessitam de doses diárias superiores. São considerados grupos de alto risco3,4 as pessoas acamadas confinadas a ambientes interiores e idosos face à redução da produção cutânea de vitamina D com o avançar da idade, bem como da diminuição do aporte dietético. Ainda, é frequente a identificação de insuficiência noutros grupos populacionais, nomeadamente:
– uso de medicação que acelera o metabolismo da vitamina D (fenitoína);
– exposição limitada a fonte solar, seja por interferência da roupa e da aplicação de protetor solar;
– osteoporose;
– hiperparatiroidismo;
– síndromes de mal absorção em contexto de doença inflamatória intestinal e doença celíaca;

 

O risco-beneficio da suplementação com vitamina D é desconhecido. A suplementação não é recomendada4, exceptuando o grupo de doentes de alto risco.

Normas de orientação definidas pela Sociedade de Endocrinologia sugerem suplementar:

– crianças e adolescentes dos 1-18 anos para prevenção de raquitismo e potencialmente reduzir o risco de infeções respiratórias;
– Idade > 75 anos, pelo menor risco de mortalidade identificado neste grupo etário;
– grávidas pelo menor risco de pré-eclâmpsia, mortalidade intrauterina, parto pré-termo, restrição de crescimento intra-uterino e mortalidade neonatal;
– doentes com critérios de pré-diabetes para reduzir o risco de progressão para diabetes;
– A suplementação não está propriamente indicada para pessoas com idades compreendidas entre o 50 e os 74 anos, desde que suprida pela dose diária recomendada ( 50 a 70 anos, 600 IU [15 μg] e dos 71 aos 74 anos, 800 IU [20μg]).

O doseamento da 25OH vitD não é recomendado na população saudável, devendo ser reservada para doentes de risco ou doentes com distúrbios hidroeletrolíticos, nomeadamente hipocalcémia.

A decisão de prescrever vitamina D e dosear a 25OH vitD trata-se de um ato médico, devendo ser ponderado o risco-beneficio pelo clínico, individualmente.

Isabel Borges
Medicina Interna

Bibliografia
1. Estudo alerta para défice de Vitamina D na população portuguesa. https://sigarra.up.pt/icbas/pt/noticias_geral.ver_noticia?p_nr=20727.
2. Bess Dawson-Hughes. Vitamin D Deficiency in Adults: Definition, Clinical Manifestations, and Treatment.
3. Ellison DL, Moran HR. Vitamin D. Nurs Clin North Am. 2021;56(1):47-57. doi:10.1016/j.cnur.2020.10.004
4. Demay MB, Pittas AG, Bikle DD, et al. Vitamin D for the Prevention of Disease: An Endocrine Society Clinical Practice Guideline. J Clin Endocrinol Metab. 2024;109(8):1907-1947. doi:10.1210/clinem/dgae290

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